As Doenças Sexualmente Transmissíveis (DSTs) e o Carnaval

Faltam poucos dias para a folia. Carnaval rima com cair no samba, pegar folga no trabalho, ir pra praia ou aproveitar na cidade mesmo aquela festa boa. Mas nada de esquecer que a saúde vem em primeiro lugar. E isso significa cuidado redobrado.

A cada 15 minutos, uma pessoa é infectada por HIV no Brasil. Além disso, o Brasil vive uma epidemia de sífilis, doença que pode levar a complicações graves. Por isso é muito importante conhecer os cuidados para se prevenir dessa e de outras sexualmente transmissíveis (DSTs) e não deixar de lado nem nos momentos de diversão, como o Carnaval.

Mas a saúde do corpo não fica só nas pistas de dança e nas ruas. O feriado mais sensual do mundo é sinônimo de sexo fácil e, por consequência, doenças sexualmente transmissíveis. Além do risco óbvio da AIDS, a chance de se contrair hepatite B, herpes e HPV só aumenta. A transmissão é reforçada pelo fato de alguns foliões se envolverem com várias pessoas, muitas vezes, inclusive numa mesma noite. A euforia não deve colocar a saúde (e a camisinha) em segundo plano.

A melhor forma de prevenir as DSTs é usar camisinha em todas as relações sexuais. Isto não é responsabilidade apenas de um dos parceiros sexuais. Lembre-se que as DSTs podem ser transmitidas por qualquer pessoa, mesmo as que aparentam ser saudáveis. Então, não coloque a sua saúde ou a da outra pessoa em risco. É muito importante que o preservativo deve ser colocado antes de fazer sexo vaginal, anal e oral.

O que fazer após uma relação sexual desprotegida?

Transou e não usou camisinha? Procure um posto de saúde o quanto antes – no máximo até 72 horas após a relação de risco. A profilaxia pós-exposição (PEP) é uma forma de prevenção emergencial, com o uso de medicamentos, para evitar a sobrevivência do HIV no organismo de pessoas que possam ter entrado em contato com o vírus recentemente.

Sabe quais são as principais DSTs?

HIV/Aids – O vírus da imunodeficiência humana é o causador da Aids, que ataca o sistema imunológico e derruba o sistema de defesa do organismo. No Brasil, a epidemia de HIV/Aids é considerada estabilizada, mas vem avançando entre os mais jovens. 

Na última década, o índice de contágio mais que dobrou entre jovens de 15 a 19 anos, passando de 2,8 casos por 100 mil habitantes para 5,8 casos.  Também aumentou na faixa etária entre 20 a 24 anos, chegando a 21,8 casos a cada 100 mil habitantes. 

“Isso mostra que nossa população jovem está mais vulnerável ao HIV e precisa acessar mais conhecimento e os serviços de saúde para se testar”, afirma a infectologista Brenda Hoagland, pesquisadora do Laboratório de Pesquisa Clínica em DST e AIDS do Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas (INI/Fiocruz). 

“Como a nova geração não assistiu à epidemia quando o HIV ainda não tinha tratamento, é possível que não tenha uma percepção sobre a gravidade do HIV, o que aumenta nossa responsabilidade de informar sobre riscos e prevenção”, acrescenta ela. 

Atualmente, cerca de 827 mil pessoas vivem com o HIV no país, e aproximadamente 112 mil brasileiros têm o vírus, mas não o sabem.

O tratamento contínuo ao HIV pode controlar a doença, garantir a sobrevida dos infectados e tornar o vírus indetectável (o que equivale a prevenir a transmissão com uma segurança de 96%). Mas não pode curá-la. O teste rápido costuma detectar a infecção cerca de 15 dias após o contágio. 

As campanhas costumam focar no uso da camisinha como método de prevenção, mas é essencial conhecer também a proteção disponível para casos de relação de risco desprotegidas, frisa Brenda – a chamada profilaxia pós-exposição, ou PEP, um conjunto de medicamentos contra o HIV que devem ser ingeridos por 28 dias no período imediatamente após o possível contágio. 

“Se uma pessoa teve uma relação sexual desprotegida em que suspeite de risco para o HIV, ela deve procurar um serviço de saúde até no máximo 72 horas após a relação. Ou seja, se a camisinha rompeu ou deixou de ser usada, a pessoa pode buscar o atendimento numa emergência e o serviço é gratuito”, ressalta a infectologista, acrescentando que quanto mais cedo se inicia o tratamento dentro dessas 72 horas, maiores suas chances de eficácia.

Sífilis – Transmitida pela bactéria Treponema pallidum, a infecção apresenta diferentes estágios, do primário ao terciário, e tem maior potencial de infecção nas duas primeiras fases, que costumam ocorrer até 40 dias após o contágio. É transmitida por relações sexuais ou pode ser passada da gestante para o bebê.

“A sífilis congênita, que é notificada compulsoriamente no Ministério da Saúde, é transmitida de mãe para filho e teve aumento de quase 200% ao longo dos últimos dois anos”, alerta a infectologista Brenda Hoagland, do Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas (INI/Fiocruz). 

Os sintomas são feridas na região genital (na fase primária) e manchas no corpo que sugerem uma alergia (na fase secundária). O tratamento da doença é gratuito na rede pública, feito com penicilina.  O problema é que os sintomas podem se curar sozinhos e passar despercebidos. 

“O fato de uma pessoa não ter mais sintomas não significa que esteja curada. Esse é o grande problema e faz com que o diagnóstico esteja muito abaixo do necessário”, avisa Brenda.  A sífilis terciária pode aparecer de dois a quarenta anos após o início da infecção, podendo causar lesões neurológicas, cardiovasculares e levar à morte. 

“Pessoas com vida sexual ativa e que tenham relações desprotegidas devem fazer o teste para a sífilis independentemente dos sintomas, da mesma forma que devem fazer testes para o HIV e serem vacinadas contra Hepatite B”, recomenda Brenda, lembrando que a sífilis aumenta o risco de infecção por HIV. O acompanhamento da gestante no pré-natal também é fundamental para evitar a transmissão da doença para o bebê.  A sífilis pode levar à má-formação do feto, surdez, cegueira e deficiência mental. 

HPV – O Papiloma vírus humano existe com mais de 200 variações e se manifesta por meio de formações verrugosas, que podem aparecer no pênis, vulva, vagina, ânus, colo do útero, boca ou garganta. O sexo é a principal forma de transmissão do HPV, seja pelo coito ou pelo sexo oral.

O HPV é uma preocupação grave de saúde pública pelo potencial de alguns tipos do vírus causarem câncer, principalmente no colo do útero e no ânus, mas também na boca e na garganta, que vêm aumentando entre os jovens. O vírus pode ficar latente por períodos prolongados sem que haja sintomas, e é difícil erradicar a infecção por completo. Por isso, especialistas recomendam que mulheres em idade reprodutiva façam exames preventivos anuais no colo do útero para monitorar o aparecimento de possíveis lesões que antecedem o câncer e que podem ser tratadas. A infectologista Brenda Hoagland, do Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas (INI/Fiocruz), estende a recomendação a homens que fazem sexo anal desprotegido, e devem fazer exames preventivos na região anal e no reto. 

No fim do ano passado, o Ministério da Saúde anunciou que a vacina quadrivalente que protege contra quatro tipos de HPV passaria a ser oferecida também para meninos, na faixa de 12 a 13 anos. Até agora, a vacina só era disponibilizada para meninas de 9 a 13 anos. 

Gonorreia – A doença é causada pela bactéria Neisseria gonorrhoeae, que infecta sobretudo a uretra. O sintoma mais comum é a presença de corrimento na região genital, mas a infecção pode causar dor ou odor ao urinar, dor ou sangramento na relação sexual e, nos homens, dos nos testículos. A maioria das mulheres infectadas não apresenta sintomas. O tratamento é feito com antibióticos e deve ser estendido ao parceiro, mesmo que este não tenha sintomas.

Quando não tratada, a infecção pode atingir vários órgãos, como o testículo, nos homens, e o útero e as trompas, nas mulheres, e pode causar infertilidade e complicações graves.

Herpes genital – Transmitido pela relação sexual com uma pessoa infectada, o vírus do herpes causa pequenas bolhas e lesões dolorosas na região genital masculina e feminina. As feridas podem acompanhar ardor, coceira, dor ao urinar e mesmo febre, e os sintomas podem reaparecer ou se prolongar quando a imunidade está baixa.

“O herpes não tem cura. A partir do momento que você tem uma infecção, você ter vários episódios ao longo da vida. A única forma de prevenção é o preservativo”, ressalta a infectologista Brenda Hoagland, da Fiocruz.  Além do incômodo causado pelas lesões, o herpes pode facilitar a entrada das outras doenças sexualmente transmissíveis. 

Os portadores do vírus devem ter cuidado redobrado para não transmiti-lo, o que ocorre principalmente quando as feridas estão presentes, mas pode também ocorrer na ausência das lesões ou quando elas já estão cicatrizadas. A doença pode ter consequências graves durante a gravidez, podendo provocar aborto e trazer sérios riscos para o bebê.

Hepatite B ou CNo Brasil, as formas virais mais comuns de hepatite ou inflamação do fígado são causadas pelos vírus A, B ou C.

A hepatite B é transmitida sexualmente, e também por transfusão de sangue e compartilhamento de material para uso de drogas, entre outros. As mesmas formas valem para a hepatite C, mas a transmissão sexual é mais rara, por isso, ela não é considerada propriamente uma infecção sexualmente transmissível. 

De acordo com o Ministério da Saúde, milhões de brasileiros são portadores dos vírus B ou C e não sabem. Correm, assim, o risco de desenvolver a doença crônica e ter graves danos ao fígado, como cirrose e câncer. A vacina contra a hepatite B é gratuita e disponível na rede pública. O diagnóstico é feito por meio de exame de sangue e o tratamento pode combinar medicamentos e corte de bebidas alcoólicas. Os sintomas para ambas as doenças são raros, mas podem incluir cansaço, tontura, enjoo e pele e olhos amarelados. Como a doença é considerada “silenciosa”, é indicado realizar exames de rotina que detectam todas as suas formas. Ainda não há vacina para a hepatite C.

Carnaval existe todos os anos, aproveite a folia, mas de forma segura. Não deixe se enganar pelas aparências, as DSTs não avisam onde estão.

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Fonte:

GLOBO G1

BLOG Saúde do Governo

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