No ultimo artigo nossa conversa sobre o exame Papanicolau foi uma introdução à anatomia do colo uterino, da importância do exame, da forma como é feito a coleta do preventivo. Pois bem, nessa segunda aula sobre o exame Papanicolau nós vamos explanar um pouco sobre o laudo deste exame, trazendo alguns conceitos básicos sobre a interpretação de laudos. Quer entender melhor aqueles parâmetros médicos e dialogar com mais propriedade sobre o seu laudo citológico? Então fique atenta!
Como foi dito na primeira aula, após o material citológico ter sido coletado, ele é encaminhado à um laboratório para fazer as análises. Aqui aparece nossa primeira observação – o laboratório pode fornecer os resultados do Papanicolau sob o nome de colpocitologia oncótica, exame preventivo ou citologia cérvico-vaginal.
O que é um Papanicolau normal?
Em geral, o laudo do Papanicolau primeiro descreve a qualidade da amostra enviada e depois fornece os diagnósticos. Um bom laudo precisa de conter as seguintes informações:
- Dizer que a amostra enviada foi satisfatória para avaliação pelo citologista. Se o resultado vier apontando uma amostra insatisfatória, a coleta de um novo material deve ser realizada.
- Indicar que tipos de tecido deram origem às células captadas, como por exemplo, células da JEC, células da zona de transformação (ZT), ectocérvice ou endocérvice. Se não houver na amostra, pelo menos, células da JEC ou da ZT, a qualidade do exame fica muito comprometida, já que são essas as regiões mais atacadas pelo vírus HPV (Ver Aula I).
- Indicar o tipo de células presentes: células escamosas (ectocérvice), metaplasia escamosa, células colunares (endocérvice), células do epitélio glandular (endocérvice), etc.
- Descrever a flora microbiológica: a flora bacteriana natural da vagina é composta com lactobacilos, portanto, é perfeitamente normal que o Papanicolau identifique essas bactérias. Se houver alguma infecção ginecológica em curso, o laudo pode indicar a presença de leucócitos (células de defesa) e o nome do germe invasor, como, por exemplo, Gardnerella ou Candida albicans.
Após as descrições acima, se o laudo não indicar a presença de células malignas ou pré-malígnas, ele virá com uma descrição do tipo – ausência de atipia, ausência de células neoplásticas, negativo para lesão intraepitelial ou negativo para malignidade.
E quando o Papanicolau é anormal – ASCUS e ASCH?
ASC-US ou ASCUS
O acrônimo ASCUS significa células escamosas atípicas de significado indeterminado. De todas os resultados anormais encontrados no Papanicolau, o ASCUS é o mais comum. Ele ocorre em cerca de 2 a 3% dos exames. O ASCUS indica uma atipia, ou seja, uma alteração nas características normais das células escamosas, sem apresentar qualquer sinal claro de que possam haver alterações pré-malígnas. O ASCUS pode ser provocado, por exemplo, por inflamações, infecções ou atrofia vaginal durante a menopausa.
Na grande maioria dos casos, o ASCUS é um achado benigno que desaparece sozinho com o tempo. É preciso salientar, porém, que a presença de ASCUS não elimina totalmente o risco dessas células virem a ser uma lesão pré-maligna; ele significa apenas que o risco é muito baixo. Estudos mostram que cerca de 7% das mulheres com HPV e ASCUS desenvolvem câncer de colo do útero no prazo de 5 anos. Entre as mulheres que não tem HPV, a taxa é de apenas 0,5%.
ASC-H ou ASCH
Quando o citologista descreve no laudo a presença de ASCH, significa que ele viu células escamosas atípicas, com características mistas, não sendo possível descartar a presença de atipias malignas. É um resultado indeterminado, mas com elevado risco de existirem lesões epiteliais de alto grau (NIC 2 ou NIC 3). A presença de ASCH indica a realização da colposcopia e da biópsia do colo do útero.
LESÕES PRÉ- MALIGNAS – LSIL e HSIL/NIC 1, NIC 2 e NIC 3
Lesão Intraepitelial Escamosa de Baixo Grau (LSIL)
A LSIL indica uma displasia branda, uma lesão pré-maligna com baixo risco de ser câncer. A LSIL pode ser causada por qualquer tipo de HPV, seja ele agressivo ou não, e tende a desaparecer após 1 ou 2 anos, conforme o organismo da mulher consegue eliminar o HPV do seu corpo.
Se o teste de HPV da paciente for negativo, basta repetir o exame preventivo dentro de 1 ano. Nestes casos, o risco de transformação para câncer é muito baixo. Se o teste de HPV for positivo, o recomendado é que a paciente com LSIL deva ser submetida a colonoscopia e biópsia, pois apesar de baixo risco, existem casos onde a lesão identificada ser mais agressiva do que apresentada pelo Papanicolau (podendo ser uma NIC 2 ou NIC 3).
A paciente com LSIL no preventivo costuma ter NIC 1 (lesão pré-maligna de baixo risco) na biópsia. Porem, cerca de 16% das pacientes tem NIC 2 (lesão pré-maligna moderada) e 5% tem NIC 3 (lesão pré-maligna avançada). As estatísticas mostram que os riscos de um resultado LSIL indicar um câncer é de apenas 0,1% dos casos.
Nota de esclarecimento: há alguns anos atrás o LSIL era chamado de NIC 1 (Neoplasia Intraepitelial Cervical grau 1). O termo NIC 1 deixou de ser indicado nos laudos de Papanicolau em 2001, vez que nem sempre o LSIL corresponde realmente a uma lesão NIC 1 na biópsia. Convencionou-se que NIC 1, 2 e 3 só deverão ser utilizadas para descrever resultados da biópsia feita por colposcopia. No Papanicolau, o correto é usar os acrômios LSIL e HSIL.
Lesão Intraepitelial Escamosa de Alto Grau (HSIL)
O HSIL indica que as células anormais têm grande alteração no seu tamanho e formato é um achado que indica grande risco de existirem lesões pré-malignas moderadas/avançadas (NIC 2 e 3) ou mesmo câncer já estabelecido. O risco de um resultado HSIL ser NIC 3 na biópsia é de 50%. Estatisticamente, o risco de um HSIL ser um câncer é de 7%.
A recomendação para estes casos é que toda paciente com resultado HSIL no Papanicolau precisa ser investigada com colposcopia e biópsia.
Pois bem, agora que você já conhece alguns termos usados pelos médicos para classificar o seu exame preventivo você pode explorar mais conteúdos e ficar por dentro também de outras doenças e temas da medicina diagnóstica. Dá uma olhadinha no nosso blog, já são mais de 150 artigos. Divirta-se e boa leitura!
Fonte:
https://www.mdsaude.com/ginecologia/exame-papanicolau/