Tuberculose: as principais informações para você se proteger da doença

Tuberculose é uma das doenças mais antigas da nossa civilização!

A TB se constitui em uma doença infecciosa milenar, com relatos de médicos na Grécia e Roma antiga. Atualmente, acredita-se que essa doença já era conhecida também no antigo Egito, já que pesquisadores encontraram lesões de tuberculose em múmias. No entanto, somente em 1882 a bactéria responsável pela doença, o M. tuberculosis, foi isolada pelo cientista alemão Robert Koch; em sua homenagem, o bacilo da tuberculose ficou conhecido como BK.

No decorrer do século XIX e até meados do século XX, era uma doença comum entre artistas e intelectuais, sendo relacionada a um estilo de vida boêmio e considerada uma “doença romântica”.

Com o advento da moderna quimioterapia, sucedeu notável revolução no tratamento da TB. O maior impacto ocorreu nos países desenvolvidos, aonde vários chegaram ao limiar de sua eliminação. Entretanto, nos países em desenvolvimento, a doença continua representando um sério problema de saúde pública. A TB atinge todas as camadas sociais, mas sempre acometeu mais os segmentos mais pobres, sendo um importante indicador social. Hoje, no contexto mundial, está essencialmente confinada aos países em desenvolvimento, onde ocorrem 95% dos casos e 99% da mortalidade total. Fato marcante é que, tanto nos países ricos como nos países pobres, a TB deixou de ser uma doença das elites para continuar vitimando os segmentos pobres da população. Apesar do sucesso da quimioterapia, 30 a 35 milhões de pessoas morreram de TB no mundo na década de 90, sendo a maioria nos países em desenvolvimento.

A doença é muito reconhecida pelo seu acometimento pulmonar (tuberculose pulmonar), mas poucos sabem que vários outros órgãos do corpo também podem ser infectados pela tuberculose, como pele, rins, linfonodos, ossos, cérebro, etc.

A infecção pelo bacilo de Koch inicia-se sempre pelos pulmões, mas pode se alastrar por todo o corpo. Nem todo mundo vai desenvolver a tuberculose ativa e alguns permanecerão com a bactéria adormecida no organismo, tendo tido ou não sintomas de tuberculose pulmonar. A bactéria pode ficar alojada durante anos em qualquer parte do corpo, como cérebro, meninge, rins, intestinos, coração, linfonodos, ossos, etc., apenas à espera de uma queda no sistema imune para voltar a multiplicar-se.

De forma geral, você pode entrar em contanto com a bactéria da tuberculose e seguir por um dos três caminhos:

  • Seu sistema imunológico não consegue controlar a bactéria e você desenvolve a doença, apresentando, na maioria dos casos, sintomas de tuberculose pulmonar.
  • Seu sistema imunológico consegue controlar a bactéria, mas não a elimina do seu corpo, mantendo-a apenas “adormecida” por vários anos. Se houver alguma queda no sistema imune, a bactéria pode voltar a ficar ativa, causando geralmente um dos tipos de tuberculose extrapulmonar. Cerca de 10% dos pacientes com tuberculose latente desenvolverão a doença em algum momento da vida.
  • Seu sistema imunológico consegue controlar a bactéria e a elimina definitivamente do corpo, fazendo com que você nunca fique doente.

Como acontece a transmissão da tuberculose?

A tuberculose se transmite pelo ar, por contato com secreções respiratórias contaminadas, habitualmente através da tosse. Os pacientes contagiosos são aqueles que apresentam tuberculose pulmonar ou na laringe. Além da tosse, o bacilo da tuberculose pode ser transmitido pelo espirro, pelo cuspe ou até por conversas próximas onde há trocas de perdigotos.

Pacientes com tuberculose extrapulmonar não são capazes de transmitir a bactéria. Por exemplo, um paciente com tuberculose ganglionar pode entrar em contato com outras pessoas que não há risco de contágio. Todavia, se este paciente com tuberculose ganglionar também tiver tuberculose pulmonar ativa, ele pode transmiti-la para outros.

Pacientes com diagnóstico de tuberculose pulmonar ou laríngea devem ficar em isolamento em quartos especiais por pelo menos 15 dias, até que o tratamento consiga eliminar as bactérias das secreções pulmonares. Pacientes com tuberculose extrapulmonar, com exame do escarro negativo, não precisam ficar em isolamento.

Estima-se que uma pessoa infectada com tuberculose pulmonar, se não tratada, pode contaminar outras 15 no intervalo de um ano. De acordo com as estatísticas, destas quinze, apenas uma ou duas desenvolverão sintomas. Atenção: apenas os casos sintomáticos são capazes de transmitir a doença. Se você entrou em contato com o bacilo, mas não desenvolveu a doença, não há risco de transmissão da bactéria para outros.

Sintomas

Tuberculose Pulmonar

A tuberculose pulmonar é a manifestação mais comum da doença. O quadro típico de tuberculose pulmonar é de febre com suores e calafrios noturnos, dor no peito, tosse com expectoração, por vezes com raias de sangue, perda de apetite, prostração e emagrecimento que chega a 10 ou 15 kg em algumas semanas.

Por ser também uma infecção pulmonar, o quadro pode lembrar o de uma pneumonia. Porém, enquanto a pneumonia é uma doença mais aguda, que se desenvolve em horas/dias, a tuberculose é mais lenta, evoluindo em semanas. Alguns pacientes com tuberculose só procuram atendimento médico dois meses depois do início dos sintomas. Deve-se pensar sempre em tuberculose pulmonar naqueles pacientes com quadro de pneumonia arrastada que não melhora com antibióticos comuns.

Tuberculose extrapulmonar

A tuberculose em outros órgãos também costuma causar emagrecimento, febre, suores noturnos, prostração, perda do apetite, etc. A diferença é que não há sintomas respiratórios, como a tosse, mas sim sintomas específicos do acometimento de cada órgão. 

Tuberculose pleural

A tuberculose extrapulmonar mais comum é tuberculose pleural, que como diz o nome, acomete a pleura, membrana que recobre os pulmões. Os sintomas mais comuns (além dos descritos acima) são dor torácica unilateral e falta de ar, causado pelo aparecimento de derrame pleural, mais conhecido com água na pleura.

Tuberculose ganglionar

A tuberculose ganglionar é uma manifestação comum nos pacientes soropositivos infectados pelo bacilo de Koch. O quadro típico é de aumento dos linfonodos na região do pescoço. No início, os gânglios têm crescimento lento e são indolores; posteriormente, aumentam de volume e tendem a se agrupar, podendo criar fístulas (comunicações) para a pele. As secreções de um gânglio fistulizado são contagiosas e podem transmitir a tuberculose para outros. Esta é a única situação em que a tuberculose ganglionar pode ser contagiosa.

Tuberculose óssea

A tuberculose óssea costuma envolver a coluna vertebral, causando destruição das vértebras. A tuberculose da coluna também é chamada de “Mal de Pott”. A doença progride lentamente com sintomas de dor leve/moderada nas costas, que piora progressivamente. Conforme a vértebra vai sendo destruída, a medula pode ser acometida causando intensa dor e alterações neurológicas, incluindo até paralisia dos membros.

Tuberculose urinária

A tuberculose urinária cursa com sintomas semelhantes à infecção urinária, porém sem resposta aos antibióticos e com urocultura negativa. Se não tratada a tempo, pode levar a deformidades do sistema urinário e insuficiência renal terminal.

Tuberculose cerebral

É a forma mais grave de tuberculose, podendo evoluir como uma meningite tuberculosa ou com a formação de tuberculomas cerebrais, espécies de tumores no sistema nervoso central.

Ainda existem a tuberculose dos olhos, dos intestinos, da pele, do coração, do peritônio, etc.

Diagnóstico

O diagnóstico definitivo de TB se dá pela identificação dos BKs de uma amostra bio- lógica através da baciloscopia, da cultura ou de método moleculares. As amostras geralmente encaminhadas para a pesquisa de BK são escarro, lavado brônquico, lavado broncoalveolar e outras relacionadas com o trato respiratório. Exames como hemograma, bioquímicos e radiológicos podem auxiliar no diagnóstico, direcionando o médico para os testes mais específicos.

A presença do bacilo no exame de escarro é o que torna o paciente contagioso. Uma vez que o tratamento tenha sido iniciado, o paciente deixará de ter a bactéria no escarro após 15 dias, em média.

As infecções extrapulmonares, em geral, ocorrem anos depois da infecção pulmonar (ou da contaminação assintomática). O diagnóstico das formas extrapulmonares é habitualmente feito pela biópsia do órgão acometido.

A radiografia de tórax é importante porque pode detectar lesões pulmonares antigas em pacientes que desconhecem o fato de já terem tido tuberculose. Estas lesões, chamadas de “cavernas”, podem se reativar, causando novo quadro de tuberculose pulmonar.

Tratamento

Os doentes que apresentam sintomas de tuberculose são tratados com um esquema de antibióticos por no mínimo 6 meses. O principal esquema é o chamado RIPE (Rifampicina, Isoniazida, Pirazinamida e Etambutol) por 2 meses, seguido por mais 4 meses de rifampicina e isoniazida.

Já há um medicamento sendo distribuído gratuitamente pelo Ministério Saúde chamado Coxcip 4, que é um único comprimido que contém a combinação das 4 drogas contra tuberculose: rifampicina, isoniazida, pirazinamida e etambutol. Nos dois primeiros meses de tratamento este é o único medicamento necessário. Nos 4 meses seguintes, o paciente passa a tomar comprimidos de isoniazida e rifampicina separados.

O tratamento das formas latentes, isto é, pacientes assintomáticos, mas com PPD positivo, é feito apenas com a Isoniazida, também pelo período de 6 meses.

O grande problema do controle da tuberculose é o abandono antes do final dos 6 meses. Como os sintomas melhoram em pouco tempo e os efeitos colaterais são comuns, muitos pacientes não completam o tempo total de tratamento, favorecendo o surgimento de cepas multirresistentes do bacilo de Koch.

Os pacientes deixam de transmitir tuberculose após aproximadamente 15 dias de tratamento. Porém, podem voltar a ser bacilíferos (transmissores do bacilo) se não completarem o curso de 6 meses de antibióticos.

A tuberculose não tratada pode levar à sepse grave e morte.

Vacina contra tuberculose

Existe uma vacina chamada de BCG, que faz parte do calendário nacional. É administrada quando criança e serve para prevenir as formas mais graves da doença, como a tuberculose disseminada e a meningite tuberculosa. A vacina apesar de diminuir a incidência da tuberculose pulmonar não a evita por completo. Como é feita a partir de bactérias vivas, ela não deve ser administrada em imunossuprimidos.

A tuberculose é uma das doenças infecciosas mais antigas e continua sendo um grande problema de saúde pública no país. Apesar da taxa de incidência ter diminuído nos últimos anos, existe ainda um número significativo de pessoas que são infectadas por M. tuberculosis.

Assim com a tuberculose, no nosso blog semanal, postamos artigos sobre outras doenças e também, outros temas. Confira!

 

Fontes:

http://www.rbfarma.org.br/files/rbf-2012-93-1-1.pdf

https://www.who.int/hiv/pub/guidelines/mozambique_tb2.pdf

https://www.mdsaude.com/doencas-infecciosas/tuberculose/

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