Redes de apoio são fundamentais para a saúde mental na maternidade

O Neuropsicólogo Celso Cruz fala sobre os desafios e cuidados para com as mulheres durante a gestação e pós-parto

Neste mês das Mães, o Paula Tostes preparou uma série de conteúdos voltados para a saúde física e mental das mulheres que são mães.

Os desafios encontrados por essas mulheres, como a solidão, as alterações corporais e o excesso de trabalho com a família são aspectos cruciais, que podem impactar de diferentes formas em sua saúde mental.

Pensando nisso, convidamos o neuropsicólogo Celso Cruz para discorrer sobre o tema, e dar dicas de como podemos nos tornar o apoio essencial que essas mães merecem!

O que a psicologia diz sobre a saúde mental na maternidade?

Por Celso Cruz

A literatura e a prática com mulheres grávidas apontam que a gestação é um período de transição e de grandes mudanças no cenário individual, familiar e social. Inúmeras são as transformações, onde se apresentam mudanças no pensamento e na emoção, no papel sócio familiar da gestante e em como ela percebe o novo futuro que está se construindo.

Existem vários estudos que evidenciam que o período gravídico puerperal é a fase que pode apresentar incidência de transtornos psíquicos na mulher, com aumento de sintomas ou mesmo o desenvolvimento de transtornos mentais, como o transtorno de ansiedade e a depressão (a depressão pós-parto aumentou nesta última década). Necessitando assim, de atenção especial para manter ou recuperar o bem-estar, e prevenir dificuldades futuras na relação com a criança e com a vida conjugal.

Nesta fase há uma enorme importância do trabalho com os vínculos, com os relacionamentos existentes com a gestante. A forma de tratar a mulher pelo companheiro(a), familiares e grupos de amigos, pode modificar a percepção consigo mesma, com a vivencia e as mudanças que ocorrem em seu corpo e sua mente. Por isso, existe uma enorme responsabilidade das pessoas que estão à volta da gestante.

Por vivenciar a gestação em seu corpo, a mulher torna-se especialmente sensível e vulnerável emocionalmente. As profundas mudanças físicas, hormonais, psicológicas e de papéis sociais fazem com que a mulher experimente um estado de regressão emocional, no qual se volta mais para si e para seus próprios sentimentos, o que se associa às memórias afetivas de sua própria infância e de suas relações familiares, em especial a relação com a própria mãe.

Quando existe dificuldade nesta relação mãe-filha as chances de uma gravidez mais introspectiva é maior. A condição de regressão emocional pode se expressar de diferentes formas, entre elas, através da mudança emocional e da necessidade de receber afeto e suporte. Além disso, na presença do novo contexto, a gestação, invariavelmente, está ligada ao sentimento de ambivalência afetiva.

Então, a gestação é um período de transformação, envolvendo assim tensão e desequilíbrio, mas também a oportunidade de amadurecimento, crescimento individual e familiar. A condição de maior vulnerabilidade emocional pode tanto aumentar a chance de desenvolvimento de transtornos emocionais, quanto gerar a oportunidade de resolução de conflitos emocionais e de atingir novos níveis de relacionamento e conhecimento de si mesma.

Rede de apoio

Por ser esperado que a mulher vivencie um certo grau de estresse, ansiedade e momentos de tristeza durante a gestação, volto a reforçar a importância das pessoas que estão fornecendo suporte e cuidados a mesma.

O carinho, a compreensão, o diálogo, são ferramentas que podem ajudar a mulher. Contudo, quando não existem estes cuidados, em algumas mulheres, observa-se a exacerbação de sintomas de ansiedade, estresse e até mesmo a presença de quadros depressivos. O que se associa a uma maior probabilidade de complicações na gravidez, no parto e no puerpério, e pode gerar repercussões negativas na saúde da mulher, do bebê e nas relações familiares.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) define saúde mental “como um estado de bem-estar em que o indivíduo é consciente de suas próprias capacidades, pode lidar com o estresse normal da vida, trabalhar de maneira produtiva, e contribuir para sua comunidade”.

Sempre é importante avaliar o bem-estar das mulheres durante o período pré-natal e pós-parto. O auto acompanhamento pode ser benéfico e existem ferramentas (aplicativos de celular) que podem auxiliar no reconhecimento dos indivíduos que estão sob risco e, deste modo, possibilitar que procurem apoio de profissional de saúde ou busquem ajuda de membros da família ou amigos, promovendo o bem-estar e tendo ações que ajudem a mantê-lo. 

Para manter a saúde mental da gestante, deve-se desenvolver estratégias de enfrentamento e formas para lidar com situações adversas, e também como construir redes de apoio, que podem ser na família, na comunidade, no trabalho, na igreja.

A assistência continuada à saúde e o apoio de grupos podem auxiliar as gestantes e as novas mães no desenvolvimento da confiança para relatarem qualquer problema, aquisição de resiliência e na prevenção do isolamento social.

O aumento da consciência do conceito de igualdade de oportunidades e de que a saúde mental requer o mesmo cuidado que a saúde física ajudará as mães a se manterem preparadas para enfrentar as dificuldades quando surgirem.

A maternidade é uma das fases mais bonitas que o ser humano vivencia, foi dada esta oportunidade às mulheres, símbolo do amor e do poder criativo. O cuidado dedicado a gestante deve ser igual ao cuidado que recebemos de nossas mães quando éramos recém-nascidos, especial e incondicional. Um ambiente que a envolva positivamente irá fortalecê-la, lhe garantido a felicidade de ser mãe. Quer receber mais conteúdos como este? Acompanhe o Paula Tostes nas redes sociais.

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