O discurso de saúde pública e as perspectivas de redirecionar as práticas de saúde, a partir das duas ultimas décadas, vêm articulando-se em torno da ideia de saúde preventiva. O conceito de Promoção da Saúde é tradicional, definido como um dos elementos do nível primário de atenção em medicina preventiva. A revalorização da promoção da saúde, resgata, com um novo discurso, o pensamento médico social do Século XIX, que afirmavam as relações entre saúde e condições de vida. O que trouxe essa discussão a tona tem sido o crescente aumento dos custos da assistência médica, que não correspondem aos resultados alcançados desejados. Em países como EUA, Canadá e países Europeus, tornou-se uma proposta governamental o enfrentamento do problema de saúde, principalmente das doenças crônicas.
A disseminação da ideia de prevenção, que tira do médico a vestimenta de “tratador de doenças” para incorporar também o papel de mantenedor da saúde, imputou-lhe a difícil tarefa de modificar hábitos de vida. Ferramentas são bemvindas nesse processo de convencimento de que, no melhor dos mundos, não serão utilizadas apenas pelo médico, mas por uma equipe multidisciplinar, integrada, com diferentes pontos de vista e universos de conhecimento, cujo objetivo comum será o de promover a prevenção em saúde.
Sem desmerecer grandes conquistas do passado, as maiores contribuições da medicina para a melhoria da saúde populacional mundial não residem na descoberta da penicilina por Flemming, na invenção do stent farmacológico ou nos avanços da engenharia molecular para o tratamento do câncer. Foram as contribuições da medicina sanitária, após a invenção do microscópio, e as intervenções preventivas, como a erradicação da poliomielite e descobertas de diversas outras vacinas, por exemplo, que abarcaram os maiores saltos da expectativa média de vida populacional.
Mesmo na prática preventiva, observa-se uma expectativa enviesada do usuário voluntário, teoricamente um indivíduo com uma visão mais amadurecida de saúde, que busca auxílio médico previamente a qualquer manifestação clínica. Usuário, e não paciente, uma vez que a busca do serviço de saúde se dá, na maioria das vezes, em pleno vigor e bem-estar físico. Esse indivíduo se submete a uma bateria de exames e, em sua visão, quanto mais exames, melhor, buscando o diagnóstico de doenças para um tratamento precoce. Frequentemente, subestima a importância dos fatores de risco. Seria como se, navegando, visualizasse uma rocha emersa, a partir desse momento, não desviasse os olhos dessa rocha para evitar uma colisão, negligenciando o fato de que pode haver outras rochas submersas no caminho, que também poderão levar ao naufrágio.
O desafio vai além de categorizar os fatores de risco dando a eles seus devidos pesos e medidas. Consiste também em ajustar o foco, muitas vezes distorcido do risco percebido versus o risco real. Doenças estigmatizadas, como o câncer, tendem atrair a preocupação desses indivíduos, como pode ser evidenciado na maioria das pesquisas populacionais sobre o risco percebido. Esses dados ajudam a entender porque uma minoria dos indivíduos orientados a prosseguir investigação e acompanhamento frente a valores alterados do colesterol ou de pressão arterial segue tal orientação, enquanto a maioria das solicitações de realização de uma tomografia do tórax para investigação de um nódulo pulmonar, visto na radiografia, é efetivada.
Quando se fala de doenças cardiovasculares, principal causa de morbidade e mortalidade, independentemente da faixa etária, após a quarta década de vida, a situação é um pouco mais complicada. Isso porque o maior percentual de usuários é de indivíduos jovens ou de meia idade (35 aos 45 anos), muitos “invulneráveis” ao infarto ou acidente vascular cerebral até um futuro distante, de sua perspectiva particular sobre a própria saúde. Por mais que realmente seja improvável um infarto nessa faixa etária, poucos desses indivíduos compreendem que o infarto dos 65 anos se iniciou décadas antes e que pode estar em andamento, nesse momento, no vigor físico, intelectual e profissional do 40 anos. Uma forma bastante eficiente de fazer esse individuo perceber a real magnitude do cenário atual é traçando um prognóstico e confluindo as diversas variáveis relacionadas, para trazer, em números, a percepção, muitas vezes complicada, do médico que lida com riscos, e não necessariamente com doenças.
Uma das ferramentas mais eficientes e bem estabelecidas é o escore de risco de Framingham, que estima o risco de eventos coronarianos para os próximos 10 anos, levando em consideração os principais fatores de risco cardiovascular. Entretanto, para o nosso usuário de 44 anos, gênero masculino, mesmo com um colesterol elevado (colesterol total = 242 mg/dL; LDL = 176 mg/dL; HDL = 51 mg/dL), associado à obesidade abdominal e ao sedentarismo, o escore de Framingham estimará um risco de 2% de eventos cardíacos para os próximos 10 anos, classificando-o como de baixo risco. Realmente essa é a melhor previsão de seus risco coronariano até os 54 anos. No entanto, a expectativa de vida desse individuo é de, no mínimo, algo em torno de 75 anos, considerando a expectativa de vida do brasileiro atualmente. Qual é o risco de algum evento cardiovascular para esse usuário ao longo de sua vida? Segundo o “Lifetime Risk” (Risco durante a vida), escore produzido utilizando os dados do estudo de Framingham, a probabilidade é de 38%, o que representa um aumento de sete vezes e meia, comparado com a população de indivíduos do gênero masculino que estão com os fatores de risco em valores ótimos.
O Hospital Israelita Albert Einstein vem utilizando o Lifetime Risk há alguns anos e os resultados de sua utilização no processo de convencimento para a mudança de hábitos de vida e terapêutica medicamentosa tem sido positivos.
A mudança é difícil, aculturar uma civilização acostumada à procurar auxilio médico somente após o problema ter aparecido não acontecerá da noite para o dia. Ainda há uma carência de informação quanto aos serviços de auxilio que podem ser usados para prevenir e manter uma vida saudável e por parte dos prestadores de saúde, o entendimento da medicina ainda é focado em diagnosticar o problema e não em promover a saúde, ou o diagnóstico preventivo. Pensando nisso, o Paula Tostes Diagnóstico desenvolveu alguns Check-ups, que são direcionados para grupos específicos de clientes, e que podem ser usados por uma ampla gama de pessoas como ferramenta de monitoramento, assim fazendo parte de uma estratégia de cuidado preventivo da saúde.
A preocupação com a saúde deve começar imediatamente, por que não começar a pensar em saúde quando a temos? Procure o seu médico e faça check-ups regulares!
Fonte:
http://apps.einstein.br/revista/arquivos/PDF/2807-31-32.pdf