Você já ouviu falar em Marcadores Tumorais?

Se você nunca escutou os termos Marcadores tumorais, biomarcadores, marcadores tissulares ou marcadores genéticos fique tranquila, provavelmente os seus amigos também não. Então, do que se trata?

Os marcadores tumorais são macromoléculas presentes no tumor, no sangue ou em outros líquidos biológicos, cujo aparecimento e/ou alterações em suas concentrações estão relacionados com a gênese e o crescimento de células neoplásticas. Só para esclarecer, células neoplásticas são aquelas que, por alguns mecanismos, tiveram seu código genético alterado, a ponto de perder a função característica. Tais substâncias (os marcadores) funcionam como indicadores da presença de câncer, e podem ser produzidas diretamente pelo tumor ou pelo organismo, em resposta à presença do tumor.

Que importância tem os marcadores?

Os marcadores podem ser úteis no manejo clinico dos pacientes com câncer, auxiliando nos processos de diagnóstico, estadiamento, avaliação de respostas terapêutica, detecção de recidivas (recorrência) e prognóstico, além de auxiliar no desenvolvimento de novas modalidades de tratamento. Podem ser caracterizados ou quantificados por meios bioquímicos ou imunoistoquímicos nos tecidos ou no sangue, e por testes genéticos para pesquisas de oncogenes, genes supressores de tumores e alterações genéticas. Cada marcador tumoral tem um valor de referencia determinado; taxas acima do valor determinado de referência, devem ser investigadas.

Quais são os principais marcadores tumorais?

Entre os principais marcadores tumorais estão:

AFP (alfafetoproteina)

A alfafetoproteina é uma importante proteína do soro fetal, que é sintetizada no fígado, saco vitelínico e intestino do feto, com funções de transporte plasmático e de manutenção da pressão oncótica, desaparecendo no primeiro ano de vida. Esta proteína pode estar elevada em pacientes portadores de tumores gastrintestinais, hepatite, cirrose, hepatocarcinoma e gestantes, o que a torna contraindicada para rastreamento de tumores de testículo. Pode ser encontrada em 70% dos tumores testiculares não seminomatosos. É sintetizada pelo carcinoma embrionário puro, teratocarcinoma, tumor de saco vitelino e por tumores mistos. O coriocarcinoma e o seminoma puro não a produzem.

A AFP serve como monitoramento para terapia de carcinoma de testículo, sendo que a sua presença sugere persistência da doença e sua concentração sérica propicia uma estimativa do tempo de crescimento tumoral. Esse marcador tem sido também utilizado no diagnóstico de pacientes com carcinoma hepato-celular, em conjunto com a ultrassonografia abdominal.

MCA (Antígeno mucoide associado ao carcinoma)

O MCA é uma glicoproteína utilizada para monitorar o carcinoma mamário. Possui especificidade de 87% e sensibilidade inferior ao CA 15-3, sendo 60% nos casos de doença metastática.

Existem outras situações nas quais este marcador pode se elevar, como em doenças benignas de mama (15%), tumores de ovário de colo uterino, endométrio e próstata.

Cromogranina A

A cromogranina A, também denominada secretogranina I, constitui-se num grupo de proteínas presentes em vários tecidos neuroendócrinos. É um marcador tumoral com utilidade em neoplasias endócrinas, tipo feocromocitoma, síndrome carcinoide, carcinoma medular da tireoide, adenoma hipofísário, carcinoma de células ilhotas do pâncreas e na neoplasia endócrina múltipla. Este marcador possui utilidade também no carcinoma pulmonar de células pequenas.

BTA (antígeno tumoral da bexiga)

O antígeno tumoral da bexiga é uma proteína expressa por varias células tumorais, mas por poucas células normais. Durante o desenvolvimento de tumores uroteliais da bexiga, essas moléculas são liberadas na urina. Sua sensibilidade varia de 32% a 100% e a especificidade de 40% a 96%. Os resultados falso-positivos relacionam-se à litíase urinária, processos irritativos da bexiga e sonda vesical de demora. Devido ao seu baixo valor preditivo positivo, sua utilização para o rastreamento populacional é discutível. No entanto, foi aprovado para uso clinico pela FDA americana.

Telomerase

A telomerase é uma ribonucleoproteína que se encontra hiperexpressa em um grande numero de neoplasias malignas. Sua atividade se encontra aumentada nos casos de câncer de bexiga, podendo ser quantificada em amostras de urina ou de tecido. Esta proteína é pouco expressada pelas células eucarióticas normais. A presença de telomerase independe do estagio e do grau do tumor vesical. Sua sensibilidade e especificidade para diagnóstico de tumores uroteliais da bexiga está, respectivamente, entre 70% e 93% e 60% e 99%.

NMP22 (proteína da matriz nuclear)

A NMP 22 é uma proteína envolvida no mecanismo de regulação do ciclo celular. Pacientes com recidiva tumoral e com doença invasiva terão níveis elevados deste marcador. Sua sensibilidade encontra-se entre 60% e 86%. Foi recentemente aprovada para uso clinico pela FDA americana.

Cyfra 21.1

O Cyfra 21.1 é um antígeno formado por um fragmento da citoqueratina 19 encontrado no soro. Este marcador tem alta sensibilidade para carcinoma de células escamosas (entre 38% e 79%, de acordo com o estádio), e é um fator de prognóstico ruim no carcinoma de células escamosas do pulmão. Encontra-se elevado também em carcinoma pulmonar de pequenas células, câncer de bexiga, de cérvice e de cabeça e pescoço. Aumenta inespecificamente em algumas patologias benignas pulmonares, gastrintestinais, ginecológicas, urologias e de mama, podendo gerar falso-positivos.

CA 72.4

O CA 72.4 é também denominado TAG-72. Este marcador tumoral tem elevada especificidade para cancro, mas sem sensibilidade de órgão. No momento do diagnóstico, cada órgão possui uma respectiva porcentagem de sensibilidade, sendo 55% para o câncer de colón, 50% para câncer de estomago, 45% para pâncreas e trato biliar e 63% para carcinoma mucinoso de ovário. Este marcador tumoral é utilizado no controle de remissão e recidiva de carcinomas de trato gastrintestinal. Cinquenta porcento dos pacientes com câncer gástrico apresentam níveis elevados de CA 72.4. este marcador é mais sensível do que o CEA e o CA19.9 para tal patologia.

CA 125

O antígeno do câncer 125 é formado por uma glicoproteína de alto peso molecular. Atualmente, sua principal aplicação é permitir o seguimento da resposta bioquímica ao tratamento e predizer a recaída em casos de câncer epitelial de ovário.

A sensibilidade para diagnóstico de câncer de ovário é de 80% a 85% no tipo epitelial, variando de acordo com o estadiamento, sendo 50% no estádio I, 90% no estádio II, 92% e 94% nos estádios III e IV, respectivamente. Um estudo mostrou que o CA 125 apresentou sensibilidade de 94% para predizer a progressão da doença apos quimioterapia, nos casos em que ocorreu aumento superior a duas vezes o valor do nadir. A elevação do CA 125 pode ocorrer de dois a 12 meses antes de qualquer evidencia clinica de recorrência.

CA 15.3

O antígeno do câncer 15.3 é uma glicoproteína de 300 – 400 Kd produzida pela células epiteliais glandulares. Seu valor normal de referencia é 25 U/ml. Apenas 1,3% da população sadia tem CA 15.3 elevado.

O CA 15.3 é o marcador tumoral, por excelência, do câncer de mama, pois é o mais sensível e específico, sendo superior ao CEA. Estudos indicam que a elevação do CA 15.3 varia de acordo com o estadiamento da paciente, sendo de 5% a 30% no estádio I, 15% a 50% no estádio II, 60% a 70% no estádio III e de 65% a 90% no estádio IV.

A grande utilização do CA 15.3 é para diagnóstico precoce de recidiva, precedendo os sinais clínicos em até 13 meses. Recomenda-se a realização de dosagens seriadas de CA 15.3 no pré-tratamento, 2-4 semanas após tratamento cirúrgico e/ou inicio da quimioterapia e repetição a cada 3-6 meses.

O que você deve perguntar ao seu médico sobre marcadores tumorais?

Algumas sugestões de perguntas a serem feitas são:

  • Foi realizado estudo de marcadores tumorais no meu caso?
  • Como foi feito o estudo?
  • Eu tenho algum marcador tumoral com o nível elevado?
  • O que isso significa?
  • Existem outros problemas de saúde ou medicamentos que poderiam influenciar esse resultado?
  • A elevação no meu marcador tumoral muda meu tratamento?
  • Você usará esses marcadores para avaliar minha resposta terapêutica? O que você pretende acompanhar?
  • Qual será a periodicidade de verificação dos marcadores tumorais?

É muito importante perguntar e esclarecer todas as duvidas, a informação é um direito seu!

Marcadores tumorais são uma vantagem ou desvantagem?

Muito se discute atualmente sobre as vantagens e desvantagens dos marcadores tumorais no uso clinico, apesar dos inúmeros benefícios obtidos e bem consolidados dos marcadores tradicionais, como são os casos, por exemplo, de PSA, CA-15 e CA 125, entre outros. Certamente a noção de desvantagem originou-se do descredito das primeiras publicações sobre as inúmeras vantagens que os marcadores tumorais propiciariam na clínica e, inclusive, atuando como indicadores para diagnósticos preventivos de câncer. Infelizmente, houve certa decepção médica quando verificou-se que os marcadores tumorais também eram susceptíveis às incríveis mudanças perpetradas pelas células tumorais, fazendo com que alguns marcadores sensíveis e específicos para determinados tipos de câncer nem sempre se mostravam com concentrações elevadas para aquele tipo de tumor.

As causas que induzem as argumentações das desvantagens dos marcadores tumorais decorrem por algumas razões aqui resumidas: a) diversidades no consenso médico para o uso adequado dos marcadores tumorais; b) a não correspondência para algumas pessoas com determinado tipo de tumor e os resultados de seus marcadores tumorais tidos como sensíveis e específicos; c) exposições mercadológicas enganosas que precederam o lançamento dos primeiros marcadores tumorais; d) a evolução na qualidade dos resultados dos diagnósticos de imagens, em que os tumores podem ser vistos pelos médicos e mostrados aos seus portadores.

Mas há de se concordar que, apesar do crédito de alguns e do descrédito de outros, os marcadores tumorais mais consagrados pela oncologia tem sido fundamentais para auxiliar o médico no acompanhamento da evolução de tumores durante seus tratamentos, bem como para detectar com relativa precocidade e facilidade analítica situações conhecidas por recidiva tumoral ou retorno do tumor, quando comparado, por exemplo, com os resultados obtidos por imagens. Assim, a maior vantagem dos marcadores tumorais se destaca pelo fato dos mesmos serem detectados em fluidos corporais quando o tumor tem apenas dois milímetros de tamanho, enquanto que as modernas tecnologias de imagens o fazem quando o tumor tem cerca de quatro a seis milímetros de tamanho. Essa diferença de tamanho tem influência no tempo de evolução da doença, que ocorre entre meses a anos. Esse tempo é crucial para erradicar o tumor ou para impedi-lo de se tornar metastático. E essa é, ainda, a grande vantagem do uso racional dos marcadores tumorais em pacientes com câncer.

 

Fontes:

http://www.ciencianews.com.br/arquivos/ACET/IMAGENS/temas-avancados/Marcadores_tumorais.pdf

https://rbc.inca.gov.br/site/arquivos/n_53/v03/pdf/revisao1.pdf

http://www.oncoguia.org.br/conteudo/marcadores-tumorais-especificos/4015/683/

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